Nos
anos 70, o “cabelo afro” esteve na moda e mais tarde passou-se a ser “cabelo
bedjo” em que não tinha muita tendência, mas, actualmente, está a ganhar cada
vez mais espaço no quotidiano dos cabo-verdianos.
Os
produtos químicos que alisam o cabelo e o uso das escovas e “chapinhas” estão a
perder o “trono” pois, as crioulas querem deixar o cabelo natural e com vida
própria. Anota-se ao nosso redor que cada vez mais, as mulheres estão a assumir
os seus fios naturais. Ao mesmo tempo, surgi uma nova concepções de negócio
voltadas ao estilo afro que começam a ganhar expressão no mercado nacional. Em
contrapartida, os salões cabeleireiros, que não acompanharem este mercado,
correm o risco de se extinguir.
Helena
Pereira, cabeleira há 10 anos, abre a porta do seu salão todos os dias, mas
depara que o movimento caiu drasticamente. Diz que as coisas mudaram-se e que está
incerta se as coisas voltarão a ser como anteriormente porque diminui-se a
procura. “ Agora, as mulheres não querem colocar desfrises no cabelo, as
clientes não querem usar escovas ou chapinhas”, conta Helena Pereira,
profissional de beleza, que é dona do salão em Safende.
Por
causa desta situação, Helena Pereira arranjou estratégias, faz frequentemente promoções
e hidratações caseiras naturais para conseguir manter o seu negócio. Passou a
fazer todo o tipo de penteados, colocar cabelo “postiço” ou tranças africanas,
hidratar, nutrir e tingir o cabelo das clientes que procuram os seus serviços.
Segundo
a estudante, Suelly Miranda, afirma que adoptou o cabelo natural porque prefere
assumir a sua própria identidade e que sente-se melhor deste jeito. “Eu gosto
do meu cabelo natural e todo o
fim-de-semana faço hidratações caseiras para cuidar dos meus cachos”, conta
Suelly Miranda.
Na
rede social facebook , a página “Nha cabelo eh afro & I love it é um grupo
específico que neste momento contêm mais
de 19 mil utilizadores. Constituído maioritariamente por mulheres
Cabo-verdianas, denominam-se de “afro-lindas” ou “afro-apaixonadas”, entre
outros termos para mostrarem a satisfação e o orgulho de apresentarem as
madeixas dos cabelos crespos ou encaracolados. Mas também há pessoas que fazem
parte do grupo apenas por curiosidade. Para além de partilharem fotos que
mostram a auto-estima elevada e de bem com os seus cabelos, os membros dividem
tratamentos e receitas, aconselhando outras mulheres a fazerem o mesmo.
Cleusa Moreira |
Quem
também entrou nesta “onda” é Cleusa Moreira, que em 2014, passou pela fase de
BC “bigchop” que consiste em cortar o cabelo, tirar as pontas que tem químicas
e deixá-las natural. Passou a dedicar-se a produtos de beleza naturais que
favorecem os cabelos das cabo-verdianas. “Usei um produto natural e
arrepende-me porque o meu cabelo danificou-se, então optei por passar pela
etapa de BC onde cortei o cabelo e pretendo deixá-lo naturalmente”, afirma Cleusa
Moreira.
De
referir que a moda do afro não é recente. Nas décadas de 60 e 70 quando a disco
music estava na moda, junto com as calças boca-de-sino, um estilo de cabelo
virou febre: o cabelo “black” e esse visual também era moda em Cabo Verde,
inclusive por homens. Nessa altura, apesar da existência da técnica de pente de
ferro quente com vaselina usada pelas mulheres para esticarem os fios
capilares, muitas preferiam o cabelo natural.
Agora
os tempos são outros e as designações também: as cores, os brilhos e as texturas
dos diferentes tipos de cabelos da sociedade crioula foram naturalmente
adquirindo novas formas. E numa sociedade democrática, a escolha que a pessoa
faz – para os seus cabelos ou para a sua vida – só depende da própria e a única
condição é sentir-se feliz e não ferir a dignidade de outrem.
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