terça-feira, 28 de junho de 2016

Salões de cabeleireiros perdem clientes por causa do fenómeno “Afro”

Nos anos 70, o “cabelo afro” esteve na moda e mais tarde passou-se a ser “cabelo bedjo” em que não tinha muita tendência, mas, actualmente, está a ganhar cada vez mais espaço no quotidiano dos cabo-verdianos.

Os produtos químicos que alisam o cabelo e o uso das escovas e “chapinhas” estão a perder o “trono” pois, as crioulas querem deixar o cabelo natural e com vida própria. Anota-se ao nosso redor que cada vez mais, as mulheres estão a assumir os seus fios naturais. Ao mesmo tempo, surgi uma nova concepções de negócio voltadas ao estilo afro que começam a ganhar expressão no mercado nacional. Em contrapartida, os salões cabeleireiros, que não acompanharem este mercado, correm o risco de se extinguir.

Helena Pereira, cabeleira há 10 anos, abre a porta do seu salão todos os dias, mas depara que o movimento caiu drasticamente. Diz que as coisas mudaram-se e que está incerta se as coisas voltarão a ser como anteriormente porque diminui-se a procura. “ Agora, as mulheres não querem colocar desfrises no cabelo, as clientes não querem usar escovas ou chapinhas”, conta Helena Pereira, profissional de beleza, que é dona do salão em Safende.

Por causa desta situação, Helena Pereira arranjou estratégias, faz frequentemente promoções e hidratações caseiras naturais para conseguir manter o seu negócio. Passou a fazer todo o tipo de penteados, colocar cabelo “postiço” ou tranças africanas, hidratar, nutrir e tingir o cabelo das clientes que procuram os seus serviços.

Segundo a estudante, Suelly Miranda, afirma que adoptou o cabelo natural porque prefere assumir a sua própria identidade e que sente-se melhor deste jeito. “Eu gosto do meu cabelo natural  e todo o fim-de-semana faço hidratações caseiras para cuidar dos meus cachos”, conta Suelly Miranda.

Na rede social facebook , a página “Nha cabelo eh afro & I love it é um grupo específico que  neste momento contêm mais de 19 mil utilizadores. Constituído maioritariamente por mulheres Cabo-verdianas, denominam-se de “afro-lindas” ou “afro-apaixonadas”, entre outros termos para mostrarem a satisfação e o orgulho de apresentarem as madeixas dos cabelos crespos ou encaracolados. Mas também há pessoas que fazem parte do grupo apenas por curiosidade. Para além de partilharem fotos que mostram a auto-estima elevada e de bem com os seus cabelos, os membros dividem tratamentos e receitas, aconselhando outras mulheres a fazerem o mesmo.

Cleusa Moreira
Quem também entrou nesta “onda” é Cleusa Moreira, que em 2014, passou pela fase de BC “bigchop” que consiste em cortar o cabelo, tirar as pontas que tem químicas e deixá-las natural. Passou a dedicar-se a produtos de beleza naturais que favorecem os cabelos das cabo-verdianas. “Usei um produto natural e arrepende-me porque o meu cabelo danificou-se, então optei por passar pela etapa de BC onde cortei o cabelo e pretendo deixá-lo naturalmente”, afirma Cleusa Moreira.
                                                                                  
De referir que a moda do afro não é recente. Nas décadas de 60 e 70 quando a disco music estava na moda, junto com as calças boca-de-sino, um estilo de cabelo virou febre: o cabelo “black” e esse visual também era moda em Cabo Verde, inclusive por homens. Nessa altura, apesar da existência da técnica de pente de ferro quente com vaselina usada pelas mulheres para esticarem os fios capilares, muitas preferiam o cabelo natural.


Agora os tempos são outros e as designações também: as cores, os brilhos e as texturas dos diferentes tipos de cabelos da sociedade crioula foram naturalmente adquirindo novas formas. E numa sociedade democrática, a escolha que a pessoa faz – para os seus cabelos ou para a sua vida – só depende da própria e a única condição é sentir-se feliz e não ferir a dignidade de outrem.

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